ASMA BRÔNQUICA/ BRONQUITE



ASMA BRÔNQUICA/ BRONQUITE

Autoria:

Raquel Pitchon, MD.

Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria ( SBP)

Especialista em Alergia e Imunologia Pediátrica pela SBP

Especialista em Alergia e Imunologia pela Associação de Alergia e Imunopatologia (ASBAI)

Mestre na área da Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Federal de Minas Gerais

Membro do Departamento Científico de Alergia e Imunologia da SBP

Membro da Câmara Técnica de Alergia do CRM-MG

Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria triênio 2012-2015

 

 

 

INTRODUÇÃO

A asma é a doença respiratória crônica mais comum da infância e usualmente caracteriza-se pela inflamação das vias aéreas. Também denominada popularmente como bronquite, bronquite alérgica, chiado, tosse alérgica, entre outros termos. As diversas denominações podem atrasar o diagnóstico e tratamento da doença. Por isso o termo de consenso a ser utilizado é asma. Clinicamente pode manifestar-se de forma e gravidade variáveis com sibilância, dispneia, tosse e sensação de compressão torácica. A obstrução ao fluxo aéreo resulta da hiper-reatividade, inflamação e edema da mucosa brônquica, espasmos dos músculos das vias aéreas, aumento e acúmulo de secreções. O diagnóstico na infância é baseado principalmente na história clínica, exame físico e na melhora total ou parcial dos sintomas, que pode ocorrer espontaneamente ou após o uso de broncodilatadores beta-2 agonistas de curta duração (SABA) e, quando possível, no padrão obstrutivo observado nos testes de função pulmonar. Não há exame propedêutico considerado padrão-ouro ou sintomas patognomônicos para o diagnóstico. As crises ou exacerbações da asma podem ser desencadeadas por diversos fatores que incluem as infecções respiratórias virais, exercícios físicos, contato com alérgenos como os de ácaros, fungos, baratas, animais domésticos, pólens e alimentos. Outros desencadeantes envolvidos são a inalação da fumaça de cigarro, variações climáticas, poluentes e alguns medicamentos, especialmente a aspirina e anti-inflamatórios não esteroides1.

A doença compromete a qualidade de vida dos seus portadores e associa-se a absenteísmo escolar, redução do rendimento escolar , da interação social e absenteísmo parental ao trabalho 2. O custo total dos cuidados de saúde com a população asmática é considerável e pode ser quatro vezes superior aos da população em geral. Os custos diretos relacionam-se a despesas médicas, internações hospitalares, uso de medicamentos e mortes prematuras. Os custos indiretos referem-se aos dias de trabalho perdidos pelos pacientes, seus familiares ou responsáveis, com a perda dos dias escolares e outros impactos da enfermidade para os doentes e suas famílias3.

A asma afeta 334 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que a maioria delas vive em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Estima-se que 14% das crianças do mundo sofram de sintomas da enfermidade. Maior prevalência, acima de 20%, foi observada na América Latina, Austrália, Ásia, Europa, América do Norte e África do Sul4. No Brasil a doença tem prevalência entre escolares de seis e sete anos e adolescentes de 13 e 14 anos, de 24,3 e 19,0%, respectivamente5. A asma representa a terceira causa de internações por doenças clínicas e a quarta causa de morte por doenças respiratórias4.

Estima-se que ocorram mundialmente 250.000 mortes em decorrência da asma a cada ano. Observa-se significativa correlação entre a elevação das taxas de mortalidade e a alta prevalência das formas graves da doença, das taxas de internações e das visitas aos serviços de urgência4. Elevada taxa de mortalidade por asma relaciona-se à má qualidade da assistência prestada aos pacientes ( VER FIGURA 1). A vigilância epidemiológica permite detectar precocemente surtos epidêmicos de asma fatal, como os ocorridos no passado. Dois surtos epidêmicos foram registrados nas últimas décadas. O primeiro ocorreu na década de 1960, com aumento de aproximadamente 50% das taxas de mortalidade por asma na faixa etária entre cinco e 34 anos e foi atribuído aos efeitos tóxicos das altas doses de isoprenalina. Essa medicação era amplamente utilizada como medicamento inalatório de resgate nas crises de asma e apresentava efeitos tóxicos cardíacos. O segundo surto epidêmico ocorreu na década de 1980 e representou aumento de 38% nas taxas de mortalidade por asma nessa mesma faixa etária. Foi inicialmente atribuído ao uso indiscriminado do fenoterol, outro medicamento inalatório de resgate utilizado nas crises de asma, com efeitos tóxicos cardíacos e que, quando usado a longo prazo, pode aumentar potencialmente a hiper-reatividade brônquica e reduzir a função pulmonar. No entanto, esse surto foi observado também em países como Estados Unidos da América, onde esse medicamento nunca foi aprovado para uso clínico4.

As mortes por asma representam a "ponta do iceberg" em relação à carga global e impacto da asma. Ao contrário de outras doenças o tratamento da asma é relativamente simples e há diversas diretrizes baseadas em evidências para o manejo adequado dos pacientes6.

 

FIGURA 1 - Fatores de risco para mortalidade por asma

• Falhas na percepção e no reconhecimento da gravidade da doença e de suas exacerbações

• Visitas frequentes aos serviços de urgência

• Internações hospitalares

• Admissões prévias em unidades de tratamento intensivo e a ocorrência anterior de crises asma grave quase fatais

• Insuficiência na educação e na adesão do paciente, sua família e /ou profissionais de saúde ao tratamento

• Uso excessivo de medicamentos broncodilatadores de curta duração e a administração dos broncodilatadores de longa duração em formulações isoladas

• Inexistência ou irregularidade de uso dos corticosteroides inalatórios para prevenção da asma

• Ausência de um plano de ação por escrito

• Desconhecimento dos desencadeantes das exacerbações e falta de encaminhamento para o especialista

• Atraso na procura por assistência médica e/ou hospitalar

• Tabagismo

• Distúrbios psiquiátricos e emocionais

• Vulnerabilidade socioeconômica

• Existência de comorbidades

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

1. Global Initiative For Asthma . Global Strategy for Asthma Management and Prevention, 2017. Available from: www.ginasthma.org.

2. Neffen H, Gonzalez SN, Fritscher CC, Dovali C, Williams AE. The burden of unscheduled health care for asthma in Latin America. J Investig Allergol Clin Immunol. 2010; 20(7):596-601.

3. Bousquet J, Bousquet PJ, Godard P, Daures JP. The public health implications of asthma. Bull World Health Organ. 2005; 83(7):548-54.

4. Network GA. The global asthma report 2014. Auckland, New Zealand. 2014;769.

5. Sole D, Wandalsen GF, Camelo-Nunes IC, Naspitz CK. Prevalence of symptoms of asthma, rhinitis, and atopic eczema among Brazilian children and adolescents identified by the International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) - Phase 3. J Pediatr (Rio J). 2006; 82(5):341-6.

6. Wong GW. Zero tolerance to asthma death. Hong Kong Med J. 2010; 16(2):84-5.

7. Bahadori K, Doyle-Waters MM, Marra C, Lynd L, Alasaly K, Swiston J, et al. Economic burden of asthma: a systematic review. BMC Pulm Med. 2009; 9:24.

8. Levy M. Preventing asthma deaths: what can GPs do? Br J Gen Pract, England. 2014; 64:329-30..

Autoria:

Raquel Pitchon, MD.

Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria ( SBP)

Especialista em Alergia e Imunologia Pediátrica pela SBP

Especialista em Alergia e Imunologia pela Associação de Alergia e Imunopatologia (ASBAI)

Mestre na área da Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Federal de Minas Gerais

Membro do Departamento Científico de Alergia e Imunologia da SBP

Membro da Câmara Técnica de Alergia do CRM-MG

Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria triênio 2012-2015

 

RAQUEL PITCHON