MEU BEBE ESTÁ COM SANGUE NAS FEZES : O QUE PODE SER?



MEU BEBE ESTÁ COM SANGUE NAS FEZES : O QUE PODE SER?

 

RAQUEL PITCHON, MD.

Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria ( SBP)

Especialista em Alergia e Imunologia Pediátrica pela SBP

Especialista em Alergia e Imunologia pela Associação de Alergia e Imunopatologia

Mestre na área da Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Federal de Minas Gerais

Professora da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais

 

 

A presença de sangue nas fezes de um bebe é sempre assustador para a família e precisa ser investigado.

O sangue nas fezes pode estar relacionado com várias causas. Por isso o bebe deve ser avaliado individualmente pelo pediatra e pelo alergista pediátrico, para que seja realizada uma investigação da causa.

As razões para um sangramento retal na faixa etária pediátrica são várias e incluem: alergia alimentar, infecção, diarreia aguda, gastroenterite, fissura anal, intussuscepção intestinal, enterocolite necrotisante e doença inflamatória intestinal de início muito precoce.

Nesse capítulo, nós vamos conversar sobre a colite alérgica ou proctocolite alérgica induzida pela proteína alimentar (PAA), também conhecida como proctocolite eosinofílica. Ela é uma das causas mais frequentes de ocorrência de sangue nas fezes nos primeiros anos de vida, especialmente no primeiro ano.

A PAA é caracterizada por alterações inflamatórias do cólon distal em resposta a uma ou mais proteínas alimentares diferentes. São reações imunologicamente mediadas, por mecanismos ainda não completamente esclarecidos.

Os sintomas geralmente começam nos primeiros meses de vida e, na maioria dos casos, desaparecem no final da infância. Bebês com PAA geralmente apresentam sangue vermelho acompanhado de muco ou catarro misturados às fezes, com ou sem diarreia. Alguns deles podem ser agitados e irritáveis; a maioria dos afetados tem aparência saudável e não tem aspecto de doentes.

Os pacientes frequentemente não apresentam anemia, perda de peso, comprometimento do estado geral ou alterações no exame físico abdominal.

O alimento que mais frequentemente causa essa doença é a proteína do leite de vaca. Outros alimentos, menos comumente, podem induzir a doença, com por exemplo a soja e o ovo, entre outros.

O bebê pode ser exposto ao leite de vaca por meio da eliminação da proteína pelo leite materno ou pela fórmula infantil.

A dieta de eliminação com a suspensão da ingestão da proteína pela mãe que amamenta e/ou pelo bebe, é a estratégia mais importante para o tratamento da proctocolite alérgica. O sangramento retal , em geral reduz em 72–96 h, mas a resolução total dos sintomas pode demorar 1–2 semanas desde o início da dieta.

 

COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA PROCTOCOLITE ALÉRGICA INDUZIDA POR ALIMENTO?

 

A PAA é uma entidade clínica e o diagnóstico geralmente é feito de forma presuntiva. Como já dissemos em geral a criança não apresenta anemia, perda de peso, comprometimento do estado geral ou alterações à palpação do abdome.

Vários marcadores inespecíficos podem ser utilizados,de acordo com cada caso. Um dos métodos diagnósticos é o teste de provocação oral que consiste em observar se ocorre o desaparecimento dos sintomas clínicos ao suprimir o alimento suspeito e a recidiva clínica quando o alimento é reintroduzido.

Ocasionalmente, é necessário realizar exames invasivos, como a retosigmoidoscopia e colonoscopia com biópsia, que pode mostrar colite focal ou difusa, com edema e erosões.

Um diagnóstico precoce e uma intervenção nutricional adequada permitirão que o bebê mantenha o crescimento adequado e promova o desaparecimento completo dos sintomas.

 

TRATAMENTO

 

O método atual de tratamento de PAA é a eliminação de alérgenos desencadeadores presumidos. As proteínas do leite de vaca estão mais comumente envolvidas, embora vários alérgenos alimentares possam estar implicados.

Em um lactente, é importante enfatizar o papel benéfico da amamentação, mas as proteínas do leite de vaca devem ser eliminadas da dieta materna.

O sangramento clínico geralmente desaparece em 1 a 2 semanas, com a eliminação completa da proteína agressora da dieta da mãe. A maioria dos casos se resolve em 72-96 h. Se a criança ainda estiver sintomática após 2 semanas após do início da dieta, é necessário primeiro verificar a adesão da mãe à dieta e, em seguida, eliminar o ovo e a soja, da dieta materna.

A supervisão por uma nutricionista por vezes, é necessária para garantir a adequação nutricional e prevenir a perda excessiva de peso da mãe. A recorrência ocasional de sangramento é comum em bebês amamentados, provavelmente por causa da ingestão acidental e inadvertida pela mãe, de pequenas quantidades da proteína desencadeadora.

Devemos salientar que em torno de 10% dos casos, os alimentos nocivos não são identificados .

 

COMO EVOLUI O BEBE COM ALERGIA A PROTEÍNA ALIMENTAR ( PAA)

 

Em geral introduzimos gradualmente a proteína que causou alergia em torno de 1 ano de idade e no mínimo após seis meses do término dos sintomas de PAA.

Em algumas circunstâncias, pode ser possível reintroduzir mais precocemente e com sucesso a proteína agressora, sendo essa decisão compartilhada de acordo com cada caso.

Optamos por realizar antes da reintrodução do alimento, o teste cutâneo e dosar os níveis séricos de anticorpos IgE específicos para alimentos, outros tipos de alergia associadas são raras, mas podem ocorrer .

O prognóstico da PAA usualmente é excelente e quase todos os bebês tornam-se tolerantes com 1 a 3 anos de idade sendo que a maioria alcança essa tolerância clínica em torno de um ano de idade.

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RAQUEL PITCHON